Martha Pagy Escritório de Arte apresenta duas exposições individuais que, com suas especificidades, falam da potência da arte enquanto elemento desencadeador da incerteza
Gui Machado, novo artista representado pela galeria e que nos mostra pinturas inéditas da série Acaso Planejado, fala de seu processo e de uma clara inspiração do Expressionismo Abstrato nas pinturas que foram feitas em seu estúdio, em Nova York: “Eu me interesso muito mais pelo que o espectador vê nos trabalhos do que pela minha intenção original. A pintura abstrata tem o poder de relacionar formas com imagens de experiências impressas no cérebro de cada pessoa. Quanto mais tempo se olha para uma obra mais coisas são descobertas e uma conexão se cria entre o espectador e a tela.”Gui usa como epígrafe a definição da lei da gravidade:“A gravidade é uma das quatro forças fundamentais da natureza. A clássica lei da gravitação universal de Newton postula que a força da gravidade é diretamente proporcional às massas dos corpos em interação e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles. Esta descrição oferece uma aproximação precisa para a maioria das situações físicas, entre as quais os cálculos de trajetória espacial.”
E prossegue:
“Estas não são pinturas criadas de forma tradicional. Elas são criadas pela força de atração do planeta que puxa a tinta para baixo.” O artista atua como um guia direcionando como a tinta preta e branca se movem na superfície.
Ainda sobre ele nos fala o poeta Jorge Salomão: “O nome da sua exposição reflete a sua experiência como artista plástico. Seu jeito de criar, seus exercícios no campo das movimentações pictóricas, ou seja a descoberta enquanto vai criando de universos vários, variados e amplos. Seu trabalho é mágico – ‘é um antídoto para o vazio da existência’ – como falava a escritora Gertrude Stein. Bonito de se ver, e, na contemplação de seus trabalhos, rola uma múltipla variedade de sentidos, mexe com a gente, com o aparato da normalidade que somente os artistas conseguem!!!”
Ivani Pedrosa apresenta a série Rumo Incerto, com objetos escultóricos que abordam questões atuais como representatividade, imigração e rumos a serem seguidos na busca por mudanças profundas do ‘estar no mundo’. Produzidos com materiais frágeis como tecido de gaze e bordados de linha, estes objetos compõem um universo de investigação assim definido pela artista: “Com o olhar atento aos acontecimentos do cotidiano, sendo estes o combustível para o pensamento e realização das obras, comecei a elaborar este projeto no final de 2017, no calor do momento político que o Brasil e o mundo passavam e continuam passando. Se o rumo era e é incerto e com várias opções de caminhos numa época globalizada e à deriva, a incerteza soa como uma possível abertura para mudanças. A procura por brechas para alcançar/conquistar novos espaços de convivência, de representatividade, de fronteiras ultrapassadas ou violadas são tópicos que foram observados, como também uma vivência pessoal dramática que transforma repentinamente nosso modo de viver. O intervalo entre o incerto e a possibilidade de mudanças foram as forças que impulsionaram o pensamento para elaboração das obras.”