Fábia Schnoor utiliza o nanquim sobre entretela para criar paisagens abstratas que se relacionam com a palavra, com a escrita e com a ação do fazer do trabalho e do lugar criado como registro de uma memória, “…de um tempo que correu com a gota”. No texto “Potência do Desenho’, o curador Paulo Sergio Duarte fala do trabalho da artista: “Todos sabem que a força autônoma do desenho é moderna. Antes o desenho era visto como forma auxiliar e preparatória para a pintura ou para estudos, sem o mesmo estatuto da tela a óleo, de um mural ou afresco, de uma escultura ou mesmo de uma gravura. A arte moderna e o mundo contemporâneo elevaram o desenho ao mesmo patamar de qualquer outro gênero da arte e transformaram em ato sua potência, antes subestimada.
Os desenhos de Fábia Schnoor são a demonstração dessa potência que passa ao ato e, notem bem, sem o apelo fácil, tão em moda, às imagens banalizadas no cotidiano da sociedade de consumo. O uso do nanquim sobre papel é outro elemento da tradição que os desenhos de Fábia trazem para o presente numa linguagem atual. E o suporte aqui não é neutro; como em boa parte da inteligente arte contemporânea, é protagonista, junto com a tinta, e participa ativamente na constituição dos trabalhos. Tanto naqueles desenhos em que o papel, cuja textura na sua massa é constituída de fios têxteis, vai absorver e trabalhar a tinta expandindo-a na superfície além do gesto da artista, como naqueles duplos, cujo suporte transparente permite que tenhamos, na sobreposição, uma obra que produz seu próprio fantasma. Sem estardalhaço, estamos diante da potência do desenho em toda sua força contemporânea.”
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Já no título da mostra Joe Seiler levanta a questão que permeia a produção de desenhos feitos com caneta BIC: seriam pinturas? O gesto vigoroso e contínuo do artista, ao produzir suas obras, torna o traço quase imperceptível, criando uma massa de cores sobre o papel. Nesta nova série o artista inclui em algumas das caixas de acrílico as canetas usadas na obra – paleta de cores e quantidade de canetas mostram parte do processo de trabalho. “Dando seguimento à minha exploração da cor, mostro como elas são criadas: uma linha de cada vez, caneta por caneta. Um processo que é ao mesmo tempo fruto do trabalho repetitivo e da meditação. Um diálogo envolvendo o transcendental e o mundano.”
Formado em Artes Plásticas pela Universidade de San Diego, com mestrado pela Goldsmiths, em Londres, Joe Seiler começou a trabalhar com gravura e escultura e logo passou a explorar a fisicalidade do processo. A partir da forma de um “rabisco” e tendo como base a técnica da gravura, desenvolveu seu trabalho entre desenho, escultura e colagem. Com a escultura, o “rabisco” passa a ocupar um espaço tridimensional, e o retorno ao desenho rebate essas infinitas formas de ilusão em duas dimensões. A gravura então se torna não um fim, mas parte de um processo criativo para suas colagens.
Na exposição, o artista mostra gravuras, desenhos e escultura.