Nascida em Belém do Pará, Roberta Carvalho é uma artista que transita entre videoarte, intervenção urbana, projeção e videomapping, diferentes meios que apresentam em comum o interesse da artista pela imagem técnica. A imagem é um desdobramento de sua atração pela poesia visual que, por sua vez, originou-se de sua paixão pela literatura. Conhecer tal percurso nos auxilia a compreender o trabalho da artista como um constante trânsito e interligação entre linguagens.
Roberta Carvalho integra a exposição Passeata, em cartaz na galeria Simone Cadinelli, com curadoria Isabel Sanson Portela. Na abertura da mostra – que reúne trabalhos de 15 mulheres presentes no cenário da arte contemporânea brasileira –, Roberta realizou um videomapping no jardim da vila que abriga a galeria e o recém-inaugurado anexo, com imagens que remetem à floresta amazônica. Já no interior da galeria, a artista apresenta um desdobramento do mesmo trabalho projetado sobre uma garrafa de vidro – tão inusitada quanto as superfícies comumente exploradas pela artista – e o registro de uma projeção realizada em espaço público.
A imagem é um desdobramento de sua atração pela poesia visual
As projeções apresentadas na galeria Simone Cadinelli fazem parte do projeto Symbiosis, realizado por Roberta Carvalho desde meados de 2007. Symbiosis consiste em uma série de ações envolvendo projeções digitais videográficas ou fotográficas em ambientes inesperados, cujo conteúdo possui referências regionais do Norte do país, região onde a artista nasceu, e desenvolve seu trabalho. Em algumas ocasiões, Roberta projetou em árvores e vegetações rostos de pessoas – geralmente relacionadas ao entorno onde acontece a exibição –, revelando um ambiente onírico. Marcado pelo caráter experimental, Symbiosis tem sua visualidade mediada pela ação da natureza, como o balançar das folhas provocado pelo vento, que garante à imagem movimentos que não são previstos pela artista. Dessa maneira, o trabalho propõe uma simbiose entre imagem, corpo e natureza. A imagem, que de forma simbólica torna presente um corpo ausente, se apropria da natureza para ganhar forma e vida. O ser humano, acostumado a adaptar a natureza para si, vê o movimento reverso: seu corpo sendo adequado pela natureza.
A simbiose entre arte e natureza já era proposta desde a década de 1960 pelos artistas da land art, que realizavam intervenções em paisagens remotas, como desertos, florestas e praias, utilizando os próprios elementos da paisagem como matéria-prima. Devido à localização de seus trabalhos, os artistas da land art faziam uso de registros imagéticos para torná-los acessíveis ao público. Roberta Carvalho herda algumas características desse movimento, mas possui uma característica singular que é a relação intrínseca entre imagem, natureza e trabalho artístico. A imagem depende da natureza, como mídia, para ser projetada, e dela recebe influxos que modificam sua visualidade. A natureza transforma e se deixa transformar pela imagem.
Passeata • Simone Cadinelli Arte Contemporânea • Rio de Janeiro • 19/3 a 29/5/2019