Laura Gorski: Repouso
Centro Cultural São Paulo • 6/8 a 30/10
POR RICARDO RESENDE
Laura Gorski apresenta a instalação “Repouso”, no Centro Cultural São Paulo, espaço de arte e cultura da capital paulista, lugar certo para a arte contemporânea ao se permitir a experimentação e os riscos da criação artística, com enorme público espontâneo.
A instalação lá está como quando nos colocamos de frente para o mar. Parece nos chamar, como as sereias que, quando cantam, levam os marinheiros seduzidos por suas vozes para o fundo do mar. Da mesma maneira, quando nos deparamos à entrada da instalação, ela nos seduz de imediato e nos conduz a fazer o percurso proposto pela artista. Parece nos puxar para o fundo da sala, que, por sua vez, nos leva para a segunda e depois para a terceira, e é assim que nos dá a sensação de afundarmos naquele abismo, a representação do fundo do mar.
O mar que mostra pertence ao mundo do invisível e do oculto, provocando sensações, emoções e questionamentos já na sua contemplação. O público é resgatado com as “chaves” dadas pela artista para adentrar na sua instalação que, em um primeiro olhar, é apenas uma sala com o chão coberto por forração escura e paredes pintadas de preto em três alturas, onde aparecem alguns elementos bastante reconhecíveis. São três: as pedras, os troncos secos de árvores e um barco pousado no chão preto. Estão distribuídos em três salas, em situações distintas, mas que conformam uma só paisagem (inventada).
Predomina o fundo preto para as linhas que contornam a paisagem. A artista cria um ambiente para nos falar do que é visível e do que não é, abrigando o público no seu interior. O invisível e o oculto estão ali juntos. O invisível é o visível que está ali encoberto, pintado de preto. O oculto, sabemos, não está no invisível, mas está ali porque é subjacente a tudo e a todas as coisas do mundo, e nos ronda.
O gesto, ao construir a instalação, vem de um desejo de apagamento das coisas para aguçar as outras que se tem dificuldade de enxergar.
A artista constrói um desenho tridimensional em que se pode entrar e caminhar de um lugar a outro, esta é a instalação.
Feira de Arte Internacional do Rio de Janeiro (ArtRio)
Pier Mauá • 28/9 a 2/10
POR LIEGE G. JUNG
Mais uma vez, a ArtRio abriu as portas para colecionadores e amantes da arte no Pier Mauá. Este ano, o caminho para a feira ganhou um enorme “upgrade”: a região está recebendo fortes investimentos da Prefeitura e deve se tornar um novo ponto turístico da cidade.
No pavilhão da arte moderna, como sempre, o estande da Pinakotheke chamou atenção, com sua costumeira oferta de obras raras em uma montagem de impecável bom gosto. “Temos algumas boas promessas”, comentou otimista Max Perlingeiro, sobre algumas reservas de obras em seu estande. A galeria O Colecionador – que tinha como “hostess” oficial uma linda tela de Jean Michel Basquiat – não ficou atrás e montou outro pequeno museu; já na Simões de Assis Galeria, Palatnik e Gonçalo Ivo foram os artistas que mais despertaram interesse dos visitantes. A Galeria Estação, a mais importante entre as de arte popular, finalmente participou da feira. Giselle Gumiero comentou a venda de duas xilogravuras do artista Santídio Pereira, artista de apenas 19 anos que teve sua primeira individual na galeria em 2016. Também foram vendidas duas obras do artista popular Lorenzato com temas de praias, raros de se encontrar nas pinturas do artista. Ao contrário do que costuma acontecer, este ano as vendas foram mais lentas nos estandes de arte moderna, onde as obras têm maior valor.
Entre os contemporâneos, o movimento nos estandes era intenso. A Gentil Carioca causou surpresa e alguma molhaceira com um chuveiro para banho de descarrego de Opavivará e, na Galeria Nara Roesler, uma gigante e brilhante forma em aço inox – a “cabeça”, de Not Vital – chamou atenção. Entre os destaques estavam as obras do minimalista Roland Gebhardt, companheiro de Donald Judd e Frank Stella, que passa por um “revival” no mercado, no Gabinete de Arte K2O. Karla Osório, que dirige o Gabinete, comentou: “O saldo da feira foi maravilhoso e muito positivo pra gente”, já fechando o espaço expositivo com sorriso estampado no rosto no domingo, último dia do evento. Na Zipper Galeria, colecionadores se aglomeravam ao redor de um retrato infantil de Adriana Duque e da árvore de corda de Janaína Mello Landim, artistas que já causaram frisson na SP-Arte este ano. Na SIM Galeria, obras de Juan Parada (que está em residência na China) e Rodrigo Andrade foram vendidas para coleções importantes.
Quem riu à toa mesmo foram as galerias jovens do último pavilhão. Orlando Lemos, da Galeria Orlando Lemos, já no segundo dia corria para repor o estande vazio. O galerista apostou nos trabalhos do artista Evandro Soares, que trabalha uma técnica mista de desenho em nanquim com arame galvanizado. Na Galeria Movimento, só no primeiro dia foram vendidas cinco telas do grafiteiro TOZ e reservada um total de dez obras. Esta é a primeira vez que a galeria participa da feira.
A GRANDE POLÊMICA: FALSIFICAÇÕES
Como todas as grande polêmicas, a deste ano começou com murmúrios. Já nas primeiras horas da feira, um conhecido e circulado galerista carioca comentou que havia uma galeria cheia de obras falsas, sem querer nomear qual. Perguntando a outras figurinhas carimbadas do mercado, a história foi tomando corpo: a Graphos, conhecida galeria carioca que já representou Vik Muniz e outras estrelas, teria obras falsas no estande. No final do primeiro dia, expositores se uniram e apresentaram uma reclamação formal à feira.
O alarme foi dado por uma tela de Raymundo Colares, artista da Nova Figuração, que foi capa da Dasartes. As cores vibrantes da pintura, que deveria ter cinco décadas de desbotamento, chamou atenção. Um galerista chegou a comentar que estava com cheiro de tinta. O boato abriu a porta para que outras obras do estande fossem minuciosamente escrutinadas pelos “marchands” e mais vereditos desfavoráveis começaram a correr a feira. No segundo dia, algumas obras já tinham sido retiradas. Como não haviam sido vendidas, o caso ficou por isso mesmo, mas já se antecipa uma corrida dos clientes da galeria a avaliadores para testar a autenticidade de obras lá compradas nos últimos tempos.
BALANÇO E MAIS UM DESAFIO
Em geral, expositores se mostraram satisfeitos com as vendas, acima das expectativas para o momento. Essa foi uma edição de “vai ou racha” para a ArtRio: apesar de ter conquistado seu lugar cativo entre o grande público, expositores vinham exigindo maior presença de colecionadores e museus, e, em meio a uma crise financeira sem precedentes, a direção da feira teve que correr atrás. Se por mérito da feira ou melhora das circunstâncias, não se sabe, as vendas e promessas deixaram a maior parte dos galeristas satisfeitos e mais dispostos a voltar no ano que vem. Os negócios penderam mais para o lado de obras de melhor valor, com muitas vendas entre galerias jovens e menos movimento em arte moderna.
Para o público, a feira menor foi um ponto positivo: mais fácil e agradável de circular, mas ainda com dificuldade para comer e beber. A saída de galerias como White Cube e Gagosian deixou em falta a presença de artistas celebridades, mas não faltaram obras de arte marcantes para todos os gostos.
Em geral, há melhorias a serem feitas, mas a ArtRio completou a prova do desafio 2016 e conseguiu trazer boas vendas e mais uma bela e animada