Nascida em Uberlândia (MG), Anaisa Franco é mestre em Arte Digital e Tecnologia pela Universidade de Plymouth, na Inglaterra, e se formou em Artes Visuais na FAAP, em São Paulo, cidade onde vive e trabalha atualmente. Em seus trabalhos artísticos, Anaisa aborda questões como identidade e subjetividade a partir da relação entre máquina e humano, orgânico e artificial. A artista esteve em exposição recentemente na Galeria Lume, com a individual Identidade Expandida.
Grande parte dos trabalhos de Anaisa Franco demandam a interação do público, como Expanded Id, uma instalação que se assemelha a um mobiliário, onde há acoplado um dispositivo que captura a impressão digital do participante e, a partir dela, desenvolve uma animação exclusiva que é projetada no ambiente. Dessa maneira, cada participante tem uma experiência única com a obra de acordo com sua identidade, que é expandida para além do próprio corpo. Uma situação semelhante é provocada pela escultura pública The Heart of The City, apresentada no VIVID Sydney 2015, que funciona como uma espécie de banco que pulsa uma luz de acordo com o batimento cardíaco do usuário que nele se senta, produzindo um coração para a cidade. Também a partir da própria identidade, o participante tem seu coração expandido e ativa a obra de maneira singular. Com esses trabalhos, Anaisa possibilita que o público experimente uma nova percepção sobre o próprio corpo e sobre aqueles que o cercam.
A experiência de ver a si mesmo no espelho também é transformada por Anaisa com o trabalho On shame, da série Psicossomáticos, que aborda a relação da tecnologia com os sentimentos humanos. Esse espelho digital distorce a imagem do participante, produzindo a sensação de desconforto. On shame expressa a relação conflituosa do indivíduo com o próprio corpo, característica da contemporaneidade, onde a imagem de si é a todo tempo projetada para os outros por intermédio das mídias sociais, passando por filtros e dispositivos que tentam adequá-la a um determinado ideal. No trabalho de Anaisa, o padrão é o estranho, e a vergonha é assumida pela artista como um sentimento natural que, embora comumente seja escondido, faz parte de todas as pessoas.
A identidade de gênero também é um tema abordado por Anaisa por meio do trabalho Homem grávido, uma escultura de madeira sobre a qual é projetada um documentário que conta histórias de homens transexuais que passaram pelo processo de transição de gênero, mas mantiveram o útero, podendo ainda engravidar. A obra afirma o novo passo da reprodução humana após bebês de proveta, barrigas de aluguel e inseminação artificial. Homem grávido mostra como padrões culturais são transformados a partir das transformações tecnológicas e aproxima a obra de Anaisa Franco às discussões da antropologia e da biotecnologia.
Anaisa Franco questiona o que define nossa identidade e expande a percepção do ser humano sobre si mesmo e sobre aqueles que o cercam, afirmando a heterogeneidade de corpos e culturas. Sua produção é definida pela relação com diferentes áreas do conhecimento e aponta para novos caminhos possíveis para a arte, demonstrando o que há de potente na apropriação de novas ferramentas que são desenvolvidas pela tecnologia.