Transigências

A relação entre a natureza e a arte revelada em inusitadas esculturas estarão na exposição Transigências, de Camille Kachani, a partir de 4 de setembro, na Galeria Murilo Castro. O orgânico e o inorgânico, o natural e o manual se misturam e se transformam um no outro quando, de uma gaveta, brotam galhos e folhas. Ou de um toco de madeira, surge um martelo. Trata-se de uma aproximação entre potência inventiva da natureza e os objetos da cultura. A natureza se revela artificial e o material transformado, a madeira, natural.

“Há ainda uma dimensão de sentidos nesses trabalhos ligada à memória subjetiva. A gaveta e as maletas são recipientes facilmente associados às lembranças, guardados e recordações. Entretanto, o fazer e a ação de executar o trabalho possuem algo de conceitual. Muitos dos instrumentos usados para construir o trabalho são também constituintes dele. Além de serem instrumentos de fácil manuseio, sua presença parece ser uma volta autorreflexiva do trabalho sobre si mesmo. É a obra que aborda seu próprio processo de construção ao se referir a objetos tão usados no ateliê, como o martelo”, comenta o crítico Cauê Alves.

Ao mesmo tempo em que algumas esculturas instigam o toque, feitos ergonomicamente para encaixarem às mãos, como a foice, a tesoura, a faca, os cabos de utensílios domésticos ou puxadores, outros trabalhos se situam entre o equilíbrio e o desequilíbrio e possuem as extremidades pontiagudas e cortantes, afastando o contato. Nestes objetos, há um abismo entre seu uso cotidiano e a configuração da peça final.

“São arranjos aparentemente instáveis, mas que possuem apoios firmes no chão: com três ou quatro pés, as peças se sustentam pela soma de instrumentos diversos. Elas parecem dançar uma música sem qualquer coreografia. Uma escada improvável se ergue cambaleante a partir de instrumentos que se transformam em degraus e laterais. A peça, que não aguenta o peso de um humano, repele o toque do visitante também com a ameaça dos utensílios cortantes e pontiagudos que a formam (…). No trabalho de Camille Kachani, natureza x arte ou natural x manual, ao invés de oposições, são unidades indissociáveis.”, finaliza Alves.

 

Sobre o artista:

Camille Kachani (Beirute, Líbano, 1963), destaca-se no atual panorama da arte contemporânea brasileira por suas obras tridimensionais. Desde 2012, vem desenvolvendo um processo inventivo de possibilidades relacionadas à transformação da natureza. Como exposições mais recentes, estão: individual na Zipper Galeria, no Rio de Janeiro, em 2014; individual na FUNARTE São Paulo, em 2008; e nas galerias Anna Maria Niemeyer, no Rio de Janeiro, e Galeria Thomas Cohn, em São Paulo, em 2010. Participou também das exposições coletivas: Annamaria Niemeyer: um caminho, no Paço Imperial, Rio de Janeiro, Espelho Refletido, no Centro Cultural Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, 05+50 MARP 20 Anos, no Museu de Arte de Ribeirão Preto, e Panorama Terra, pela RIO+20, todas durante o ano de 2012.

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