Toda janela é um projétil, é um projeto, é uma paisagem | SIM Galeria

A SIM Galeria e a Simões de Assis Galeria de Arte se unem para apresentar “Toda janela é um projétil, é um projeto, é uma paisagem”.
Mostra coletiva sob curadoria de Paulo Miyada, cria um diálogo entre alguns dos mais relevantes artistas modernos brasileiros com diversos artistas contemporâneos.
Artistas participantes:
Alfredo Volpi, Ana Elisa Egreja, André Komatsu, Antônio Bandeira, Antônio Malta Campos, Awst & Walther, Caio Reisewitz, Cícero Dias, Djanira, Edgard de Souza, Guinard, José Pancetti, Julia Kater, Juliana Stein, Luisa Brandelli, Marcelo Moscheta, Manuela Eichner, Mayana Redin, Miguel Bakun, Patricia Leite, Paulo Monteiro e Pedro França.
Texto curatorial:
Toda janela é um projétil, é um projeto, é uma paisagem
Na história da humanidade, nem toda morada tem janelas e nem toda paisagem se percebe desde ambientes interiores. Mas, toda vez que há janelas, é possível percebê-las como metáfora e metonímia de modelos de privacidade, abordagens do espaço público e concepções da paisagem. Quem abre janelas edita, idealiza e constrói seu território.
Na história da arte, nem toda imagem é representação e nem toda representação emula a espacialidade de uma janela. Mas, toda vez que se representa uma paisagem, existe a oportunidade de exemplificar, demonstrar, analisar, criticar e/ou refletir os modos de percepção e concepção do território atuantes em dada época e lugar.
Embora lide com escalas espaciais e temporais que podem extrapolar as dimensões das vidas dos indivíduos, a própria concepção da paisagem é uma ação humana, que se faz junto do ambiente natural, mas nunca coincide com ele. Ver o mundo, enquadrá-lo e representá-lo é um ato de linguagem e, por consequência, de desígnio, desejo, expectativa e apreensão.
Assim, a história das paisagens de um território não é apenas uma oportunidade para refletir sobre continuidades e rupturas entre estilos, subjetividades e técnicas de dada cultura, mas também um lugar privilegiado de reflexão sobre projetos de humanidade, sociedade e presença em dado ambiente habitado.
Toda janela é um projétil, é um projeto, é uma paisagem é um ensaio expositivo com alguns dos mais relevantes paisagistas modernos brasileiros (junto a seus ideais de tempo, espaço e vida) e diversos artistas contemporâneos que se dedicam contínua ou pontualmente a reencontrar imaginários possíveis para a existência em seus territórios.
Há um tanto de isomorfismo, outro tanto de coincidência, mas o que realmente motiva este ensaio é fazer aflorar hipóteses de geografia humana cantadas pelos artistas em suas paisagens.
O embaralhamento entre tempos e regiões pode servir para deixar latentes ressonâncias entre sentidos poéticos ou processuais, em detrimento de reiterações classificatórias ou cronológicas. Objetos e objetivos transbordam categorizações, enquanto cada artista histórico atrai uma vizinhança peculiar.
Cícero Dias evoca uma visada alegórica da paisagem brasileira e, assim, dialoga com Manuela Eichner, Luisa Brandelli, Ana Elisa Egreja, Patricia Leite e Mayana Redin, em um conjunto que traz ainda a ressonância do imaginário vernacular em Djanira.
Em seguida, José Pancetti agrega abordagens da paisagem em que são soberanas a duração, a intensidade e a extensão praieiras, acompanhado por Caio Reisewitz, Juliana Stein e a dupla Awst & Walther – além um desdobramento da obra de Redin e pontuações de Alfredo Volpi e Miguel Bakun.
Já Alberto da Veiga Guignard condensa a paisagem como essencial substância mnemônica que se pode empilhar, acumular ou atravessar. Nisso está acompanhado por Edgard de Souza e Julia Kater. Bakun também pontua a sala e em seguida desfila modos de apreender empiricamente seu entorno, como quem faz da arte ferramenta de teste, assim como Marcelo Moscheta e Pedro França.
Adiante, Antonio Bandeira enfrenta a paisagem urbana como tensionamento expressivo da grelha ortogonal, ao lado de André Komatsu e de outro conjunto de obras de França. Finalmente, Volpi aborda também o espaço urbano, mas como ritmo prosaico de cores e formas pictóricas. A malevolência sagaz de seus gestos é aqui aproximada de obras de Antônio Malta Campos e Paulo Monteiro.
Frente a esse panorama, algo que talvez impacte os mais inquietos com o estado do mundo em geral e especialmente de nosso país e de suas políticas será o caráter minoritário dos projetos ambientais encapsulados por essas poéticas, o modo como todas elas contrastam radicalmente com o que o Brasil tem anunciado como signo do desenvolvimento e do progresso. Seriam então os artistas sempre românticos em sua concepção da paisagem? Ou será que somos nós demasiado cegos para a correspondência entre o que vemos pela janela e o que vivemos em nossos corpos?
Paulo Miyada

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