Gabi Gelli | Bianca Boeckel Galeria

A Bianca Boeckel Galeria exibe “entretempo”, individual da artista visual carioca Gabi Gelli, com curadoria de Bianca Boeckel. Em sua primeira exposição em São Paulo, a artista apresenta 20 obras – fotografia, pintura, cerâmica, bordado, escultura e instalação – que representam sua busca pela ressignificação, num conceito que aborda a estética do corpo, o tempo, o sentimento, a presença e até mesmo a superação de experiências traumáticas.

Com o mote de trabalhar em prol de um propósito comum, a arte de Gabi Gelli fala da sobrevivência, de ser mais forte que os percalços da vida e do acolhimento. Aos 16 anos de idade, a artista teve de lidar com um diagnóstico difícil e com a notícia da necessidade de uma cirurgia no coração. A partir desse momento, iniciou sua produção artística de maneira instintiva, e o verbo “ressignificar” passou a guiar todo este caminho. Surgiram, assim, pinturas e bordados da série “Coração”, na qual fala sobre a trajetória de um trauma. Da superação dessa experiência, surgiram as séries “Cicatrizes” – em que fotografou cicatrizes de 21 pessoas e depois as transformou em bordados, ressignificando marcas que antes eram vistas como a parte mais feia da pessoa em lidas peças de arte -, e “Cura”, que aborda a superação interna do trauma, em relação ao sentimento. Sobre a série “Cicatrizes”, a artista comenta: “É algo que faz parte de você. Só tem cicatriz quem está vivo e isso é lindo, a gente tem que colocar em evidência ao invés de esconder. Esses trabalhos mostram como essas cicatrizes podem ser graficamente bonitas. Busco ressignificar aquela estética do corpo perfeito, sem marcas”.

Na série “Mãos”, Gabi Gelli busca a ressignificação do tempo, da presença. Para obter os moldes que são usados como suporte das obras, foi preciso submergir suas mãos em gesso por alguns minutos. “No começo, me sentia angustiada de ficar com as duas mãos ali, o celular tocando, várias coisas pra resolver e eu tendo que ficar com as mãos presas até o molde secar. Pra mim, aquilo era um desespero, sou uma pessoa ligada no 220, nunca queria ficar parada no ateliê”. Então, a artista se propôs a fazer quantas mãos fossem necessárias, até se acalmar e assimilar algo daquela experiência, e assim descobriu uma forma de meditação ativa. “Fazia um molde atrás do outro, fazia e secava, fazia e secava. Num dia fazia 12, no outro queria fazer 14. Tinha dias que ficava desesperada pro molde secar, em outros, colocava as mãos ali e ficava tranquila e calma. Nem levava mais o celular pro ateliê”, comenta. Dessa forma, passou a entender muitas coisas sobre estar presente, e voltou a meditar, algo que a faz muito bem e que há anos não praticava. Descobriu que seus medos vêm da falta de presença, e que o trabalho a traz para o presente.

Ao compartilhar experiências pessoais, a artista busca se aproximar do público e ajudar outras pessoas por meio de obras que provocam uma identificação imediata, haja vista tratarem de assuntos universais e que, de uma maneira ou de outra, atingem a todos. Nos dizeres de Bianca Boeckel: “Eu, por exemplo, nunca passei por nenhum trauma na minha vida. A cicatriz que tenho é de alegria, de cesariana. Mas isso não quer dizer que eu não me identifique com o que a artista passou e que eu não reflita sobre a minha vida. O trabalho da Gabi é uma celebração da conquista e não da dor, não é apenas sobre trauma e cicatriz, pode ser interpretado também como recomeço e valorização do que se tem”.

Compartilhar: