Entre Fronteiras | Galeria Zagut

A Galeria de arte Zagut, situada no Cassino Atlântico, recebe a mostra “Entre Fronteiras”, coletiva de artistas mulheres, cujo tema foi inspirado na obra, que também leva o mesmo nome, da artista Anna Bella Geiger.

A exposição “Entre dois hemisférios”, que tem a curadoria assinada por Bianca Bernardo e organização de Isabella Simões, é uma reunião de pinturas, instalações, vídeo performances, objetos e insalações das artistas Adriana Tabalipa, Anna Bella Geiger, Anna Braga, Caroline Valansi, Clara Cavendish, Clarisse Tarran, Debora Stienhaus, Helen Pomposelli, Luisa Callegari, Luzia Simmons, Martha Pires, Mayra Rodrigues,Teresa Stengel, Veronica Miranda e Yolanda Freire.

“Nós, mulheres, que sofremos historicamente uma partilha social que nos levou a viver assombradas por ordens domésticas que nos levaram para o interior da casa como cativeiro. As artistas que participam da exposição expressam com linguagens particulares suas relações com o sonho desperto, o desejo, a censura, a vigília, o delírio, as fabulações e a loucura. Por meio de pinturas, desenhos, colagens, bordados, assemblages, esculturas, fotografias e vídeo, cada artista expõe um universo de si, imagens que revelam passagens pessoais, narrativas inventadas e vividas por mulheres que se entrecruzam em três gerações. Estar entre dois hemisférios é buscar uma nova direção para o corpo, produzindo novas cartografias que deflagram o território liberdade para sejamos ser, apenas ser, desistindo do peso do mundo sobre nossas costas”, diz Bianca Bernardo.

Para Isabella Simões, a exposição busca interpretar realidades complexas a partir de esquemas simplificadores, dentre os quais sobreleva, pela frequência de seu uso, o enfoque dualista, binário, on/off, sim/não, nós/eles, maniqueísta. Tendemos então à avaliação de “metades”, duas partes, dualidade em um todo, quando se partem e se complementam. “Ocorre nas mais variadas searas e desde remotos tempos: sol e lua; a energia taoísta yin e yang; a questão biológica do xx e xy; luz e escuridão; guerra e paz; verdadeiro e falso. Há desigualdades realmente polares: pobres e ricos, acesso e falta, cuidado e não cuidado. E, nas oportunidades de colocação de questões intrinsecamente femininas na arte, abundantes estatísticas comprovam a disparidade existente em relação às masculinas”, explica.

A Zagut é um espaço que propõe a permeabilidade, seja entre gerações, entre áreas de conhecimento, entre pessoas, com foco na interdisciplinaridade e no diálogo. A exposição dá asas ao imaginário feminino, pelas vozes que se expressam em cada trabalho e nos remetem a questões caras e importantes para essas mulheres. Tanto em sua singularidade, como ao se ampliarem para a representação de outras. Assim como também, muito importa para gente que faz parte dessa outra “metade”.

Texto: Bianca Bernardo

Uma linha imaginária foi desenhada para dividir o planeta que conhecemos como Terra ao meio. Seu desenho tornou-se tão presente em nossas vidas que esquecemos que a linha do Equador de fato não existe, mas que sua invenção é um serviço para a divisão dos hemisférios norte e sul e inevitavelmente, consistiu na divisão sócio-econômica entre dois blocos através de aspectos que ressaltaram a diferença e as desigualdades, tais como “grandeza econômica” e “desenvolvimento”. No entanto, as distinções que se atribuíram à divisão dos hemisférios contradizem o significado do nome “Equador”, que deriva-se do latim medieval e em suas primeiras aparições queria dizer “igual”, “equivalente”. Na sua raiz etimológica, Equador fazia referência ao círculo imaginário que equaliza dia e noite, no lugar de separar em desigualdade, apontava para a potência análoga, a correspondência dos semelhantes no momento de seu toque.

A igualdade não será um deserto branco. Nos sucessivos giros a vida da Terra constrói estabilidade, girando em volta de si mesma enquanto baila em órbita. Entre dois hemisférios é uma exposição que convida o público a navegar pelo território movediço do inconsciente feminino, borrando as fronteiras que nos impedem de sonhar acordadas. A exposição deseja construir uma ponte de trânsitos livres, na qual o que mais importa não é a chegada ou a partida, mas o tempo da viagem, a possibilidade de demorar-se em cada obra e contemplar novos mapas para o mundo.

Nós, mulheres, que sofremos historicamente uma partilha social que nos levou a viver assombradas por ordens domésticas que nos levaram para o interior da casa como cativeiro. As artistas que participam da exposição expressam com linguagens particulares suas relações com o sonho desperto, o desejo, a censura, a vigília, o delírio, as fabulações e a loucura. Por meio de pinturas, desenhos, colagens, bordados, assemblages, esculturas, fotografias e vídeo, cada artista expõe um universo de si, imagens que revelam passagens pessoais, narrativas inventadas e vividas por mulheres que se entrecruzam em três gerações. Estar entre dois hemisférios é buscar uma nova direção para o corpo, produzindo novas cartografias que deflagram o território liberdade para sejamos ser, apenas ser, desistindo do peso do mundo sobre nossas costas.

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