Daniela Paoliello | Galeria de Arte Ibeu

“É como um tiro ao contrário. Não é a câmera que vai de encontro ao objeto, mas um corpo que se atira sobre o disparo: corpo-projétil”. É assim que a artista Daniela Paoliello, que integra o acervo do Museu de Arte do Rio, descreve as obras da exposição “é o coração de tudo”, que será inaugurada na Galeria de Arte Ibeu, sob curadoria de Cesar Kiraly. A mostra é composta por uma série fotográfica e um vídeo, “Exílio” e “Apanhador para grandezas impalpáveis”, respectivamente, produzidos entre 2012 e 2016.

Nos trabalhos apresentados, Daniela Paoliello desenvolve uma ficção com base na experiência, onde há contato direto com o acontecimento e o fluxo do real. O corpo experimenta fisicamente o espaço produzindo uma imagem que se afirma ao mesmo tempo como empírica e ficcional. A experiência do corpo no espaço é essencial, é o ponto de partida da invenção, da construção de um território imaginário.

“Há um fator de descontrole, um espaço para o inesperado. É produto de uma sobreposição entre experiência e sua reinvenção, causando uma falta de diferenciação entre elas. O corpo assume, nessas obras, um caráter experimental e investigativo, ele transita pelas paisagens buscando estímulos, desejando ser afetado e criar a partir dessa afecção. É um jogo entre experiência e invenção. Entre se deixar afetar pelo espaço e nele intervir”, explica a artista, vencedora do Salão de Artes Visuais Novíssimos 2018.

Nas imagens é estabelecida uma relação entre a fotografia, o vídeo e a auto performance, em que o corpo da própria artista atua exclusivamente para a câmera, distante do olhar direto do público. Fotografar sem ver a cena: é uma imagem da ordem do antes (imagem-projeção) e do depois (imagem ao acaso).

“A questão da artista é deixar uma existência muito frágil à mercê da desproporção, como a pedra de gelo à terra, a folha diante da luz ou a teia de aranha no espaço, para, sob recursos diferentes, alavancas de sentido, inverter a dinâmica. A rivalidade se torna ainda mais explícita quando o corpo performático da artista é posto nu enfrentando o sol ou encolhido no chão”, analisa Cesar Kirally.

“A alvura da pele, a insistência à intempérie e a disposição mimética parecem mudar quem está na posição de domínio, o ponto mais alto da assimetria. A feminilidade é posta cúmplice de outros entes materiais convencionalmente acessórios, como penas e folhas, e invertem a partida se tornando isto, qual seja, elemento entre elementos”, completa o curador.

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