Camille Kachani | Zipper Galeria

Morteiros, granadas, livros e xícaras de chá convivem em mobílias domésticas em uma harmonia estranhamente habitual nas novas obras de Camille Kachani. Em sua próxima individual, o artista reflete sobre a formação da identidade no confronto entre as esferas pública e privada na trajetória de cada indivíduo. Com curadoria de Sabrina Moura, a exposição reúne séries inéditas de esculturas, fotografias e desenhos do artista.
Os trabalhos se relacionam com a sequência de deslocamentos e migrações vivida pelo artista. Camille Kachani nasceu em Beirute, Líbano, em 1963. Seus pais, judeus sírios, haviam se refugiado no Líbano na década de 1950. Nos anos 1970, a família migrou para o Brasil em razão da guerra civil libanesa que se iniciava, radicando-se em São Paulo. Nas esculturas exibidas na exposição, os elementos se acumulam uns sobre os outros, criam raízes e se transformam em terreno fértil para o crescimento de estruturas orgânicas, em que tudo se conecta e se ramifica. “São elementos de dentro e de fora: minhas obsessões, ideias e lembranças recorrentes, coisas que vêm formando minha identidade ao longo do tempo. Não acredito em identidade herdada, parada no tempo e no espaço”, o artista analisa.
Isoladamente, as peças reproduzem fielmente sua referência original. Juntas, porém, refletem sobre as forças resultantes das dimensões privadas e públicas na constituição da identidade. “Em meio a dualidades que não se excluem nem se opõem, o artista nos coloca face à uma série de conexões improváveis. Talvez essa seja uma maneira de lembrar que nossa própria narrativa também carrega filiações identitárias com as quais nos relacionamos, mas sequer sabíamos recusar”, escreve a curadora da mostra.
Parte de uma pesquisa recente, Kachani exibe nova série fotográfica nas quais galhos, folhas e cipós evocam situações que traduzem o confronto da natureza com a condição humana. Estruturas orgânicas brotam da cabeça do artista e remetem ao islamismo, cristianismo e judaísmo – as três religiões monoteístas que atravessam a trajetória do artista. O diálogo entre as imagens reflete sobre temas como a formação e a imbricação de simbologias fundamentais na formação do indivíduo. O artista, ao invés de assumir filiação a doutrinas fixas, decide expor sua multiplicidade de referências, em prol de uma identidade nômade e errática.

Compartilhar: